terça-feira, janeiro 16, 2007

Os Grandes Portugueses

Ando estranhamente em cima das actualidades. Primeiras grandes desilusões: o facto de José Saramago, Egas Moniz e Fernando Lopes-Graça (este acho que nem nos 100…) terem chegado ao top ten. Surpresa (?): o Salazar ter chegado lá. Ó meus amigos… Eu sei que as coisas andam mal desde que o Afonso Henriques deu numa de rebelde e fundou um país assim por capricho ou complexo de Édipo mal resolvido, mas há limites… É o equivalente de os espanhóis elegerem o Franco! É suposto ser alguém que ponha Portugal no mapa, alguém realmente importante para todos, um representante da essência do ser português, essa portuguesidade no bom sentido!!! Por mim, acho excessivo que tantos reis dos Descobrimentos estarem nesse top ten (quer dizer, é uma escolha demasiado óbvia, além que parece que a nossa História se resume a esse século…). Intenção de voto? Porque estou chateada com a presença do Salazar nessa lista, ainda pensei votar no Álvaro Cunhal. Além de que o senhor traduziu o Rei Lear quando esteve na prisão e nós, bardólatros, temos de ser uns pelos outros. Mas por outro lado, eu que fiquei um BOCADINHO chateada quando, em Inglaterra (de onde veio a ideia desta treta dos grandes portugueses blá blá blá…) o número um foi atribuído a Sir Winston Churchill, sim, muito importante, e Shakespeare ficou em quarto, acho que aqui devemos dar a vitória a um artista. Sim, se somos um país de poetas, buga lá assumi-lo com tomates (não dos podres, dos eufemísticos). Entre o Camões e o Pessoa, a minha escolha recai sobre o último. Ora essa, o homem é um espírito britânico num corpo português… ok, agora a sério. Pessoa é um pós-modernista antes do pós-modernismo, falou sobre tudo, não lambeu as botas ao D. Sebastião, tinha aquela paixão esquisita assolapada com a Ofélia (lembro-me sempre daquela cena sobre o vão das escadas, que ela conta…), tinha uma data de tipos dentro da cabeça (como eu o compreendo…), e… ora bolas, não preciso de me justificar. Aliás, deixem-me justificar pondo aqui uma pérola daquela alma que eu gostava tanto de ter conhecido (e o top ten não ter ninguém ainda vivo deve querer dizer alguma coisa, mas não sei se quero perceber o quê). E como estou a pensar escrever um pequeno ensaio sobre o que é o amor, tiro as frases das cartas para a senhora Ofélia.

Meu Bebé pequeno e rabino:

Cá estou eu em casa, sozinho, salvo o intelectual que está pondo o papel nas paredes (pudera! havia de ser no tecto ou no chão!) e esse não conta. (…)Sabes? Estou-te escrevendo mas não estou pensando em ti. Estou pensando nas saudades que tenho do meu tempo da caça aos pombos, e isto é uma cousa, como tu sabes, com que tu não tens nada… Foi agradável hoje o nosso passeio – não foi? Tu estavas bem disposta, e eu estava bem disposto, e o dia estava bem disposto também. (…) Bebé, vem cá; vem para o pé do Nininho; vem para os braços do Nininho; põe a tua boquinha contra a boca do Nininho… Vem… Estou tão só, tão só de beijinhos… (…) Açoites é que tu precisas.
Adeus; vou-me deitar dentro de um balde de cabeça para baixo, para descansar o espírito. Assim fazem todos os grandes homens – pelo menos quando têm – 1ºespírito, 2º cabeça, 3º balde onde meter a cabeça.
Um beijo só durante todo o tempo que ainda o mundo tem que durar, do teu, sempre e muito teu

Fernando (Nininho)

Buga dar a vitória a este homem! Nas trivialidades se encontram os verdadeiros génios.

PP. Isto deixa-me algumas preocupações, esta relação Nininho-Bebé. Primeiro, os diminutivos são mesmo necessários? As alcunhas carinhosas existem mesmo entre os grandes nomes da literatura (e estou a pensar no Sartre e na Beauvoir)? Hum. Depois, será que algum dia, se tiver o azar de ficar famosa por alguma coisa, ou me meter na cama de alguém que fique de repente famoso (mais provável porque não implica eu ser famosa, extremamente difícil devido à minha natureza altamente anti-social que pode ser confundida com timidez – ou é o contrário? De qualquer modo, sei que vou morrer sozinha), a nossa correspondência – se isso ainda existir – será publicada postumamente. O meu cadáver vai morrer de vergonha. Pior, a Vodafone irá vender o registo das minhas mensagens para ele, e o mesmo fará seja qual for a operadora dele. Argh. Abominável, a ideia. E e-mails, com links na Wikipedia, parece que estou a ver…



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